segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Peleja-cabeça.

São bem-entendidos que discutimos
em rodas de papo-furado; rosto
a rosto lavado; levado na lábia
da (suposta) sábia persona; astuta
proposta de mútua paz interior.

Os mal-explicados assuntos, jogados
em esfumaçados verbetes, são fiados
lembretes que jamais serão honrados;
serão usados, cuspidos e pisados
em tempo real, sem falso pudor.

Descalço, o temor de furar a sola (do pé),
pisar na bola, é maior, e o pior
calor de todos é o frio na espinha
da consciência; quando já está feito,
não tem jeito, não tem peito que não doa.

Ficar à toa é a ciência de estar
o tempo todo pronto a não fazer nada
de chato, de bom ou proveitoso; é ficar
manhoso a toda obrigação; é estreitar
toda ligação afetiva barata e ôca.

O movimento da boca assume papel-chave;
bons gostos, bolas dentro, p'ra fora,
na trave e comentários diversos; alguns
versos ao quadro, alguns tratos
mal-fechados, muitos olhos bem abertos.

De certo modo, nada errado entre aqueles
que se propuseram a jogar, olhar,
comentar o jogo rolando, o pau comendo,
cantando no meio-de-campo, no núcleo
do círculo central da pegada peleja.

A cereja do bolo é cefaléia proveniente
do coquetel de orgulho, dissimulação,
culpa, perdão e urgência; a carência
fica p'ra escanteio; e o receio de perder
jogando bem, não existe ou já ficou p'ra trás.

3 comentários:

  1. Nossa, Felipe...
    Adorei mil vezes o teu poema.
    Uma ode aos bons e descompromissados encontros. Ao prazer do ócio, muito bem acompanhado. A tudo que não esta nessa louca ordem em que vivemos de produzir-consumir incessantemente.

    Beijos, querido
    Mônica

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  2. boa meu chapa!
    curti o terceiro bloco
    abraco

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