terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sonomalemolência.

Nervoso, o impulso erra
o alvo; torna-se avulso
o diário calvário; confuso
itinerário de ruas sem saída;
uma noite perdida e um dia
condenado, em desuso; abuso
de inútil esforço; aleatório
remorso; notório pesar de existir.

Já se foi a feira, a derradeira
noite e a segunda, inundada
em água e angústia; ânsia
por descanso e recomeço,
pelo próximo e certeiro passo;
que não seja vã mais essa
página do vigésimo-oitavo
capítulo deste livro inacabado.

Está baixa a maré; parece
navegar de marcha à ré
toda a trama; converte-se
em drama a comédia de ser,
e nada construo, desde então,
senão um edificante desprazer
representado em alguns pares
de versos: anexos à minha dor.

Um comentário:

  1. Ah, Felipe... versos anexos a dores, tempo em desuso...bonito isso...
    "Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
    Soletro velhas palavras generosas
    Flor rapariga amigo menino
    irmão beijo namorada
    mãe estrela música
    São as palavras cruzadas do meu sonho
    palavras soterradas na prisão da minha vida
    isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
    num quarto só"
    Antônio Ramos Rosa

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