terça-feira, 13 de maio de 2014

Poeira.

Tudo se quebrará;
somente o inquebrantável
ficará intacto
e, dos cacos, dessa força-
-certeza, emergirá nossa
construção.

Já está pronta,
alicerçada, embora empoeirada
de gastos receios, rígidos
devaneios que, de tão
doces, envenenam;
velam tudo o que é luz.

Mas, tem brilho nisso
tudo; tem alegria
em cada flagelo
de aflição, em cada perdão
sem culpa, em todo medo
d'outro dia, em nada em vão.

Um comentário:

  1. o que seria da poesia se não houve o depois de amanhã?

    um abraço

    Mewlana Jalaluddin Rumi - A Stone I died

    A stone I died and rose again a plant;
    A plant I died and rose an animal;
    I died an animal and was born a man.
    Why should I fear? What have I lost by death?


    Alexander Pope - Eloisa to Abelard [excerpt]

    In these deep solitudes and awful cells,
    Where heav'nly-pensive contemplation dwells,
    And ever-musing melancholy reigns;
    What means this tumult in a vestal's veins?
    Why rove my thoughts beyond this last retreat?
    Why feels my heart its long-forgotten heat?
    [...]
    How happy is the blameless vestal's lot!
    The world forgetting, by the world forgot.
    Eternal sunshine of the spotless mind!
    Each pray'r accepted, and each wish resign'd.


    Nelson Rodrigues - Reze Menos Por Mim [excerto]

    Qualquer um tem seus íntimos pântanos, sim, pântanos adormecidos. É preciso não despertá-los. Mas certos acontecimentos acordam a lama do seu negro sono. Quando isso acontece, a alma começa a exalar o tifo, a malária, e a paisagem apodrece. Justamente, a morte de Guimarães Rosa tocou meu íntimo e inconfesso pântano. Vivo, ele nos agredia e humilhava com a sua monumental presença literária. Certa vez, ouvi o Otto Lara Resende dizer, na TV Globo: — “O genial João Guimarães Rosa”. Além de chamá-lo “genial”, ainda lhe punha, por extenso, o nome. Eu estava em casa. Detestei o Otto e pensei, desfeiteado: — “Uma besta, esse Otto”. No dia seguinte estava eu dizendo, não sei a quem, que o “Grande Sertão” tinha muito de gratuito, de incomunicável; e linguagem do autor, que ninguém entendia, era uma audição para surdos. E, súbito, num domingo, morria Guimarães Rosa. A notícia deu-me um alívio, uma brusca e vil euforia. É fácil admirar, sem ressentimento, um gênio morto.[...] Há qualquer coisa de árido, ou de vazio, ou de humilhante, na morte natural do grande homem. Pois Guimarães Rosa, com um puro e convencional enfarte, mereceu a promoção frenética das tragédias de sangue.

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