quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sangue.

Há sopro, há risco,
há sangue, rabisco,
rascunho de letra;
sentença, sujeito.

Um puzzle; ruído
de rima; modelo
de bloco, calhamaço;
há sangue nos olhos.

Oxigênio rarefeito;
cadência cardíaca;
do mercado, exigência;
há sangue nos bolsos.

É rubra nossa existência;
pois, há sangue nos dedos,
na cuca, nas vias que transportam
o corpo, o sangue, o oxigênio.

4 comentários:

  1. já disse antes mas repetir é importante. claro que há muitos poetas com a preocupação formal (não sei ser assim, tanto que escrevo basicamente sem pontuação). então há todo essa ocupação gráfica (sintaxe, semantica - augusto dos campos um dia chamou isso de "semência"), a gradação de sons e sentido, compostos (ou decompostos) seguindo a pausa da ortografia (virgula, ponto e virgula, ponto) que derivam nossa pausa reflexiva, nosso ato proprio de pensar que, pór fim, é o de respirar. concordo: joão cabral começou um campo que precisa ser cultivado com mais cuidado (carinho mesmo) mas sem cair em suas armadilhas que são maravilhosas. vejo um esforço muito bonito em novos poetas na reconstrução da pedra para alem dos obstaculos e meio de caminhos. dante procurava isso em vita nuova, quando do latim inventou o italiano em florença do qual foi expulso... talvez caiba aos poetas a explosão do idilio para a formação do proprio exilio, que ele proprio fez ao seu redor. nada mais revolucionario do que um verdadeiro romantico pois não salva nem a si mesmo quando sua obra atinge autonomia

    um abraço

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    1. Suas considerações são maravilhosas, como sempre. E me pego nesse final, da explosão do idílio para a formação do próprio exílio... Ou, muitas vezes seria - a partir da pedra - uma fortaleza, por que não? Que, enquanto protege, também aprisiona.
      Acredito que o poeta pode ser refém da estrutura, se escolhe esse caminho que você muito bem delineou. E nesses casos é recorrente uma espécie de "síndrome de Estocolmo", muito difícil de ser vencida.

      Muito obrigado, um abraço.

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  2. fiquei essas duas semanas traduzindo este seu poema, espero que não se sinta ofendido... gostei muito de traduzi-lo lá no meu site

    um abraço

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    1. Honrado.

      http://holostasis.blogspot.com.br/2015/01/sangre-por-felipe-sanches-o-joao-cabral.html

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