segunda-feira, 31 de maio de 2010

Inspiração, transpiração.

Não existe hora certa;
por isso, fique alerta
que, por esta porta semi-aberta,
pode surgir um esquema,
uma prosa, um poema,
uma rosa amarela
louca pr'a mudar de cor.

Tenha à mão o pincel,
a aquarela e a tela
branca, pálida pelo vazio,
e ávida pelo primeiro traço,
pioneiro laço de união
entre o sim e o não,
o fogo e o pavio.

Aproveite a tensão
do momento, e reserve
ao movimento atenção
ritmo, som, precisão
e muito sentimento
canalizado, empenhado;
plena dedicação.

Não se apresse pelo fim
e, quando ele vier,
num suspiro qualquer,
lembre-se de mim:
dê espaço ao (escasso) tempo
do instante final
e, suavemente,
desperte para o mundo real.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Carne.

Te procuro por todos
os atalhos da cidade,
por todas as barreiras
de verdade, e a falsidade
não mais me interessa
quando a pressa
pelo importante,
triunfante desfecho,
tranquilizante beijo,
é morfina para a minha dor.

Já perdi o pudor,
só me resta o amor
pelo que faço, no compasso
dos batimentos; mandamentos
da alma de alguém que gosta
do amargo sabor do real vivido,
do labirinto infinito
que representa o mosaico
de cenas pontuais; aventuras carnais
que já não me satisfazem mais.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Desprezo.

Hoje, posso afirmar
com todas as letras:
só recebi desprezo.

Por que será?

A madrugada, o dia,
a tarde, a noite
me desprezaram.

Minha família, meus amigos,
meus irmãos, minhas bactérias,
meus ácaros me desprezaram.

Meus sons, meu tons,
meus cheiros, meus gostos
me desprezaram.

Meu coração me desprezou;
enfim,
o dia acabou.