sexta-feira, 18 de junho de 2010

Noite.

Nenhum tipo de força
elevada, superior,
irá encurtar
minha caminhada,
diminuir o pesar
da jornada
de todas as noites.

Nem mesmo o fervor
do vinho tinto,
em meu estômago,
conseguirá atingir
o âmago do conflito,
ou calar o desesperado
grito de libertação.

A tentação é sutil;
o rio de sangue quente
que corre em minhas veias
se encarrega de multiplicar
todas as reais particularidades
de minha personalidade
já tão controvérsia.

Chega a madrugada, nua;
nada mais existe, senão
a inércia de ponderações
coerentes, condizentes
com o discurso falado;
permaneço calado, espero
pelo dia, minh'alma flutua.

domingo, 13 de junho de 2010

Eu sei.

Eu sei que tu não vais
decifrar, absorver
a totalidade do que quero
te dizer; esse lero-lero
de pródigos pensamentos,
colocados em códigos
coerentes somente a mim.

Ainda sim, gostaria
que procurasses, bem
no fundo, a semelhança
entre a tua crença
e o meu mundo,
e resolvesses os impasses
normais, superficiais.

É um desperdício
todo esse lamento,
esse atrito, esse aflito
sentimento constante
de iminente perda
e reconciliação
sem razão de existir.

O meu sacrifício
sempre foi e ainda é
para manter o ambiente
ameno, aprazível;
e o que lutei, calado,
do mesmo lado que o teu,
somente eu sei.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sensação.

Quero tua visão
dos fatos; quero
enxergar tua paixão
pelos rasos aspectos
cotidianos, relatos
vivos de qualquer ser.

Quero te conhecer
pelas palavras, sentir
o prazer de explorar
o palpável; e o que há
por vir, prefiro
esperar a sensação.

Quero, contigo,
me aprofundar
no superficial
mais passível
de rica reflexão;
tua íntima versão.

Por isso, verso
agora por ti,
abro-te o que
já vivi; ouço-te
porque me importo;
te quero bem.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Roubo.

Tu me roubas a paz,
eu tomo-te o resto
de falsa inocência,
porque não presto
-tu sabes muito bem-
em momentos de carência
afetiva ou numa noite
supostamente festiva.

Tu custas a entender
todo o processo que leva
ao exorbitante montante
desta conta que nunca
termina, só aumenta;
alimenta uma fantasia
de pouco valor,
muita pseudo-alegria
e horas e horas de dor.

Tu desenvolves um pavor
de contato direto
e provocas um mecanismo
de auto-isenção
de responsabilidade
pelo nítido déficit
de companheirismo,
carinho e amor.

Tu mascaras, com promessas,
teus intoleráveis erros
de improvável precisão
cirúrgica; inacreditáveis
eventos acidentais
para alguém que só dá
passos firmes
na já traçada direção.