terça-feira, 18 de março de 2014

Nada.

Nadas, perdes o fôlego,
ancora-te em algum cais;
agarra-te ao toco, podre,
banhado de fortes águas,
poluídas de falsos remorsos;
esperas pela redenção, brioso,
resistes à fúria da correnteza
das impiedosas ondas.

Lança-te em mar aberto,
buscas o ancoradouro,
já munido de canoa e remo,
moves duas toneladas por segundo,
avanças rumo à ilha,
alcanças a trilha em terra firme,
cais no buraco, escalas a parede
de pedras, esperas o socorro,
do alto, e ele não vem.

Joga-te ao céu, dotado
de toda tua asa, fazes pouco
caso das alturas, das rupturas
de conforto, bebes o desgosto
como Martini, relaxas envolto
de incêndio, nada mais importa-te
senão água e pão, conquistas
o perdão de ninguém; tens tudo
em tuas mãos, mas nada mais
importa-te: nada.