segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Triunfo.

Estavam guardadas, na linha
do tempo; escurecidas, por trás
da parede de enlatados
medos, covardes bocejos,
todo o arsenal de certeiros
disparos, prontos ao triunfo.

Quase não foi tempo, mas, 
sem dúvida, foi o espaço
da graça, das quietas horas,
que guardou, tão bem,
todo fruto-ímpeto.

Sejam efêmeras as intempéries,
sejam caudalosas as frustrações,
o rito já foi cumprido: a ordem
foi dada e o barco desceu o rio.

É quase janeiro e corre solto
o certo destino, delicioso
curso de fins-devaneios.

Dou-te a mão e saltemos,
juntos, nas profundezas.

Na riqueza de sermos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Partida.

Foi abraçado, uma vez; na segunda
foi dado o grito - a passagem,
anunciada - a piada contada;
os dias se passaram e tudo
era rubro forte.

Foi atravessado; e o que restava
foi derrubado, reconstruído,
e foram deixadas pedras
no caminho, travando
o fluido trajeto.

Foi avisado, mas pouco se disse;
muito era esperado e se viu,
a sombra sumiu, era sol
p'ra toda nuvem, era
água a toda sede.

Foi agarrado; do seu canto frio,
puxado; seu pavio, já aceso
brilhava todas as noites,
sua lua era doce,
cheia de vida.

Foi amassado, como de xeque-
-mate; foi dado como morto,
foi dito torto, desiludido,
foi varrido da goma,
esvaziado o soma.

Foi finalizado aos vinte e nove
do segundo tempo, sendo
validado o gol de ouro,
suprimido o suplício,
apitado o final.

E o jogo não acabou.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Torto.

Miúda é toda letra
que um dia traduziu-se,
à boca pequena, do ventre
p'ra fora, num tiro certeiro
que nem ainda alvejou
o alvo-destino.

É falso branco;
nem amarelo vê-se
nesse sorriso amargo
de dor simulada, de fé
quebrada na pedra 
gelada: coração.

Não tem noção,
nem perdão,
simpatia,
que,
todo
si, de lá,
perdeu-se,
sol diminuto
a justificar todo
rolo de prosa, frio
desapego, morto
discurso, torto
caminho.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O.

Sempre rígido,
duro na queda,
ríspido, rude;
talude no aterro
de excessos
que dá forma
à estrutura.

Paúra do tempo;
sacerdote da norma,
monobloco, inteiriço
de alma - de corpo,
granada - rocha magmática
a ponto de bala.

Pronto a tudo;
mudo de fissura,
modo-loucura ativado,
na febre do rato,
no sangue do bode.

Ligado na carne,
pisado do feltro;
rasgando o fio
do bigode.

Partidário, nunca
neutro; buscando
de faro.

Queimando de dentro,
estrago-legado.

Imune-flagelo.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Agruras.

O mês - de três semanas -
figuras, agruras humanas;
manias vão pelo ralo.

O mesmo canto, um grito
esparso no lugar (in)comum;
só mais uma figura, mais um.

São dois, três sustos;
são justos gritos, doces
figuras, agruras vão pelo ralo.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quebra.

Há uma quebra
que sempre pedra;
arrocha; engendra
feixe que nunca
fenda, se raro rende.

Vi uma tenda
que pouca gente;
que rouco grito,
que brado aflito
quebrando tudo.

Noite-dia, virei
mudo; virei muda,
meu próprio rito:
mais-do-que-infante,
quebrei quebranto.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Serão.

Será atalho toda fuga,
será retalho-caminhada
mal planejada, fadada
ruga de covardia.

Será melancolia todo
resíduo dessa manobra,
será janela p'ro precipício,
subsídio de acomodação.

Será culpa todo ranço,
será ódio toda ira, fogueira
toda faísca, resquício
todo perdão.

Será gigante todo vilão,
será de força toda saída,
será temido todo rival.

E serão todos vencidos.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

"Prolífixo".

Por ali fico: pormenores
me chamam xará, parceiro;
o que me fará, então,
prolífico em minhas próprias
dores, fortunas, horrores
de mão beijada?

P'ro lixo vão os versados
desprazeres, afazeres
de minuto, de ditado ritmo,
dilatadas maneiras, redomas
de rotas sílabas, redondos
prolixos enganos.

Então fico, ali, prolixo
em meus chãos-de-vidro,
em meu caos de areia,
em minha rítmica veia,
desde tarde prolífica,
proibida e natural do lixo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O mundo.

É uma viagem que busco
contigo; que ofuscas a mim,
perdido de mim mesmo,
que busco abrigo,
contido em meus medos.

É vadiagem toda dormência,
cidadã demência
que encaro fugindo
em rubra-cara, fingindo
a toda lábia.

É vicissitude esse embalo
disfarçado de atitude, esse
rude-regalo de alma
lavada, passada a limpo.

Já é tempo de navegar
contigo em mais profundas
águas, de mergulhar de cara
no mundo maravilhoso de nós.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sabor.

O efêmero saiu
de moda; a roda-
-vida [vívida]
nunca quis tanto
ser perpétua:
é nítida nota
e não dá sinal
de trégua.

Quiçá dinâmica,
não poderá dar-se
o prazer de olvidar-se
da lâmina-regra,
gangorra-guia
de todas as sílabas,
e a saciedade
de recordar é viver.

É natimorto o descartável;
e aquele que não se mova,
não se comova do espelho-
-raiz, ou não busca ser feliz -
pois é legítimo o asco de causas
perdidas - ou prefere perecer
de dentro: pelos quais, lamento.

Centro-me, então, a cruéis
desventuras; repassadas
no bojo moderno [meu, teu]
de ser, restauradas molduras
dão firme objeto; passos
concretos à incompletude;
não-sábia: saborosa.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Nota aos leitores:


Mais de uma centena de poemas deste blog serão reunidos, com algumas peças inéditas, em livros impressos e digitais. Informações sobre títulos, sites para venda e lançamentos serão postadas neste espaço no momento em que se confirmarem. Por conta deste projeto, os poemas que serão publicados no primeiro livro, que tem lançamento previsto para agosto de 2013, foram retirados do blog.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

E.

Esgoto o esgoto; esgueiro-me
a esmo sob a égide estrangeira
de mim - tanto o ex(s)trato, quanto
o escroto são externos, mas muito
meus.

É tempo de ego; enxergo
na essência do efêmero êxito
do "eu" a emergência
do exato-exposto:
não nego.

Envio este embrulho; entoo
tua esperança em meu hino:
se não tomo um "Eno",
não engulo esse engodo-
-exagero.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Chá sabe.

Mal fujo do tempo, já'dentro
os meus sonhos; nego
meus menores delitos:
delimito o trilho das sombras.

Chá quente, que nem doce
ajuda; maré calma
e agito no fundo - bem
no fundo - já pego essa onda.

É redonda toda mente
que tudo sabe, presume;
nada além do abismo, pois
nem horizonte alcança.

Nem do palpável lança
mão; o não se faz cartilha;
é filha da surpresa a tolice
e a arrogância é a mãe de todas.

Nada sabe aquele
que nada sabe; nem aquele
que sabe tudo; muito menos
o que pouco sabe, e o que
muito, também.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Cesso.

Cesso os excessos; admito
recesso ao bravo soma,
parceiro de todas as horas
bem-mortas e desventuras.

Recesso: o mais escuro
lado, secreto-vício
de compulsórias fugas
que um dia julguei rés.

Depois foram dois, três
e, de vez, estabeleci
meu lugar à sombra,
deliciosa rugosidade.

A idade é sossego; é mais
tempo o que nego; faço-me
cego às tendências; atiro-me
ao meu ego: a vida é processo.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Setlist.

I've been a tripper
for days and nights;
for sabbath years,
trapped under ice.

Since the 20th century,
for a long time, I've been
the known old boy
knocking on back doors
all arround.

I've been a sultan, I've
been a beast - at least a pet
- burried in the same cemetery
that I nearly lost myself.

I must sail on, break the law;
my middle dream of life: it's time
to burn, to kill the king
of my hardest memories.

Me: let me see you, let me
to be your miracle man,
to show you that nothing's free,
nothing's real; to turn on
the lovedrive that makes me alive.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Hodierno.

Acordo, moroso, da letargia;
bebo da liturgia de cumprir-se;
cuspo, a todos, esperança e
devo, gostoso, tudo à guia.

Estrela-referência do amigo-ego;
força'liança d'aquilo que se perdeu,
gula-perseverança, de garoto-logo-
-homem: me afogo da trilha.

Imagino milhas à frente; mal caminho
j'avisto a chegada; contemplo a estrada
longa e tortuosa de curvas que nem
me bem lembrava mais.

Não olho, em vão, para trás;
observo o quadro, pego a cena,
panorama d'aparente leveza
que, despercebida, é
registrada em cada frame.

Sê tu mesmo, same old style;
toque o desconhecido, que é
único e selvagem,
vivo, vivendo e buscand'o
"x" da questão a esmo,
zelando a (boa) fé e a coragem.