sábado, 20 de dezembro de 2014

Ganho.

Ganho saliência, e nada mais
me impede, nada me barra,
nada me amarra ao pé
do ouvido, ao verbo.

Ganho relevo, e tudo
me brinda, tudo arquiteta
para que eu sinta a vontade
de abrir-me à lauda irrequieta.

Ganho significância dentro de
mim, e tudo me aproxima
da essência, da ciência
do pleno arbítrio.

Tudo me nega
a vontade,
nada me
empresta
à eloquência;

Tudo me prende
à saliência da firma
de ser da gangorra o elo,
de ser da balança o prego
que prende, sustenta o peso,
que perpetua o equilíbrio de ser.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Passos.

Passou a limpo; cotejou
os fatos; mirou a vista;
revelou as fotos; emendou
os tratos; reconsiderou.

Cotejou as fotos; mirou
os fatos; passou a vista;
revelou as emendas; tratou
a limpo; reconsiderou.

Emendou as fotos; cotejou
a limpo; tratou a vista;
passou a mira; revelou
os fatos; reconsiderou.

Limpou a mira; emendou
os fatos; fotografou os tratos;
reconsiderou os passos;
cotejou a vista; revelou.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

O culto.

O culto nada
cultua, senão
o próprio aro;
a cerca da sua
teia, o raro til
da sua veia-ermitão
de inacabadas vilas.

Oculto, celebra vilãs
às suas insossas anedotas;
trafega no vão entre o útil
e o recomendável; faz de sua
criação mera peça vendável, vil
desejo de reparação às horas a fio
no intento narcísico de qualquer eco.

Vaga de linha em linha, repleto de rima
reta; remenda sua curva mente de cultura
azeda; veda os ouvidos ao novo; dá de ombros
ao infinito e desce a ladeira da encarceração.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O professor.

O professor: mestre
do miolo alheio, muito
alheio aos exaustos
olhos de esperar todo
o ato; um trato
formado entre o Estado
e o ego.

De muito absorto, cego;
de longe, certo; de perto,
refém do ultimatos
acadêmicos; dos pensamentos
endêmicos que, vis, desvelam
a mais íntima de suas personas.

Um solitário masturbador
de ideologias roubadas;
seu alvo é a imparidade e,
controverso que é, provoca
fundamentais intelectuais
repulsas; espasmos indesejáveis.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Labor.

Compraram meus fluxos
neurais; fizeram de minhas rimas
commodities e, de colecionador
de letras, tornei-me
calculador de trechos.

Pedaços, espasmos de qualquer
pretensa epifania; gravações
de dados sabidos à exaustão;
discursos de antemão; estavam
em curso o método e o lírico.

Sempre soterrados sob a massa
de matrizes; parâmetros
à serviço da manutenção
do óbvio; quase uma leviandade.

No fim, o que tenho é só ouro;
esbanjo lágrimas enquanto jogo
pérolas aos tubarões; nem mais
reconheço-me gente, no máximo
um dígito.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Giro.

ao meu amigo Renato, que entregou-se à alegria de ser.

Um giro; muito mais
que uma jornada
ou um plano
mas a história do teu tempo
passando na janela, roncando
de dentro p'ra dentro,
embalando tua pressa de ser.

Não tem preço; já é hora
dessa mais-que-jornada (sim,
pois é muito mais
que dia-sobre-dia);
são noites de sonho, manhãs
de esperança e tardes
de certeza, nunca tardias,
mas precoces
em seu obstinado intuito.

Tens, desde que te vejo, a sabedoria
dos grandes, uma certa misantropia
diplomática, que, na medida
do ponderável, sempre
objetiva teus nobres
princípios, que ainda muito humanos
guiam-te em bom rumo.

Teu fim é princípio; teu lugar
está pronto; mal esperas
te sorri a verdade; nunca foi
tão boa a ninguém a vaidade,
pois tens a clareza dos sinceros;
não somente desejos; viajas
no ensejo do teu modo de vida,
que sorri às mazelas, constrói
teu caminho que te espera logo à frente.


Visitem http://olestenumlada.wordpress.com e embarquem de carona nesse giro.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Poeira.

Tudo se quebrará;
somente o inquebrantável
ficará intacto
e, dos cacos, dessa força-
-certeza, emergirá nossa
construção.

Já está pronta,
alicerçada, embora empoeirada
de gastos receios, rígidos
devaneios que, de tão
doces, envenenam;
velam tudo o que é luz.

Mas, tem brilho nisso
tudo; tem alegria
em cada flagelo
de aflição, em cada perdão
sem culpa, em todo medo
d'outro dia, em nada em vão.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Comigo.

Guardes teu receio; é, pois,
tudo teu; todo o meu anseio
de vida, toda iniciativa
e partida; aquele plano
de fuga às amarras.

Mostres o que fizeste
de ti, toques, a mim, o si
da tua flauta, como nunca
tocaste e mostres tua melodia.

Já é dia, não é hora, pouco
importa; nossa noite invade
a linha, embala a valsa da redenção.

Esqueças o não, nunca
te sintas sozinha, se não quiseres.

Sintas a brisa matutina.

É a estrela magna mostrando-te
o caminho, nosso ninho iluminado.

Deixes que te toques
a esperança, que te invadas
somente a boa lembrança.

Atropeles as derrotas, dês
notas florais aos ruídos, assines
os fluidos naturais bem-vindos
ao teu conforto.

Faças disso tua meta, arrisques
tudo a cada pisque, fujas
do módico, percebas o entorno,
largues que falem, te permitas
que ouças e me deixes levar-te comigo.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Das dores.

Pode ser mais doído o
ódio moído; o incenso
de sangue; o mangue de
justiça; a preguiça da
certeza.

A garrafa sobre
a mesa; o pudim em pedaço;
o vintém de recalque; o
decalque de raiz; a pessoa
mais feliz.

O desconforto
de ontem; o perdão de outrora;
o padrão de reação; o caldo,
o tempero e o grão; a inércia
do conhecido.

O contracheque
mal-vencido; a derrota
com sabor; o machucado
sem dor.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Força.

Tenho tudo
em minhas mãos,
tão tuas; mãos
à obra, tão minha,
compartilhada em tua,
que unem-se na rua,
calçada, entremeiam-se,
pés no chão, tão certos.

Mãos abertas às tuas;
nossa força em tuas
mãos, tão minhas, em
tuas mãos, tão tuas.

Tragicamente, de tão
nossas, nunca minhas,
nunca tuas.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Ainda.

Já tenho outras rimas,
guardadas num canto,
sobre o qual me escoro,
cuja sombra assiste
meu pranto dedicado
à esperança.

Mesmo que esta seja
o substantivo da delonga,
ainda que fosse curta
a carência desse plano
de legado mal-acabado.

É infinito o repertório
de desprazeres, e os deleites
são breves, quase escapam.

Tenho outros graves versos,
mas os guardo com garra.

Os amarro em meus medos.

terça-feira, 18 de março de 2014

Nada.

Nadas, perdes o fôlego,
ancora-te em algum cais;
agarra-te ao toco, podre,
banhado de fortes águas,
poluídas de falsos remorsos;
esperas pela redenção, brioso,
resistes à fúria da correnteza
das impiedosas ondas.

Lança-te em mar aberto,
buscas o ancoradouro,
já munido de canoa e remo,
moves duas toneladas por segundo,
avanças rumo à ilha,
alcanças a trilha em terra firme,
cais no buraco, escalas a parede
de pedras, esperas o socorro,
do alto, e ele não vem.

Joga-te ao céu, dotado
de toda tua asa, fazes pouco
caso das alturas, das rupturas
de conforto, bebes o desgosto
como Martini, relaxas envolto
de incêndio, nada mais importa-te
senão água e pão, conquistas
o perdão de ninguém; tens tudo
em tuas mãos, mas nada mais
importa-te: nada.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Barra.

Teu tino na tigela,
os mesmos da barra,
empurrada na ladeira;
de tão desleixada,
tijucana ou da lagoa.

É doce o ferro
que conquistas,
o sólido cárcere
em que te aprisionas,
à lei da caneta.

Não te querem acolá,
mas rompas à força
toda subjugação,
resquício
de subserviência.

Venças a marra,
a negação, o perdão,
o medo e a coragem,
mintas de verdade,
derrubes a tua barra: una.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ser.

Me entope a fumaça,
me entope a desgraça de ser;

Me afugenta a desgraça,
me afasta a fumaça de ter.

Quase nada eu quero,
quase nada eu venero
a não ser eu mesmo.

Não ser tudo, eu imploro,
P'ra ser menos, eu peço a você...

Não ser nada além mim.