sexta-feira, 25 de maio de 2012

Vão.


Há um vão sujeito;
um fosso entre os tecidos,
que vão dos ouvidos aos pés,
percorrendo a ociosa musculatura
e pouco espiam pelo fio da fechadura
que aprisiona os livres anseios
detrás da porta-realidade.

Vão entrando, vão adentro,
os raios de luz - e desenham
algum rumo na parede de sombra
do quarto vazio de esperança,
cheio de mórbida lembrança
das intermináveis noites
na solitária-multidão.

Vã desilusão, posto que o destino
sempre ali esteve, sorrindo,
pedindo-me a mão, bailando
ao passo da moda, fazendo
a roda-vida girar, viva,
frenética, brilhosa,
como deve ser.

Que seja vida esse vão:
que seja breve esse rito,
seja ouvido o meu grito,
infinito o teu pão, o meu teto;
que seja afeto teu sussurro aflito
ao pé d'ouvido - que seja envolto em fé.