Danem-se todos os prólogos,
os monólogos, os jogos de bola,
os colchões de espuma, de mola,
as paixões de esmola, reuniões
da turma da escola, a fala
que não cola, a conversa
que não desembola, a dor
que me assola, a mulher
que me amola, que me faz
gastar a sola, pegar insolação.
Fodam-se as morenas, as loiras,
as negras, as mulatas, as ruivas,
as serenas, agitadas, as ingratas,
as carinhosas, dispersas, as atentas,
as sedentas, as frígidas, apaixonadas,
desencanadas, encalhadas, as carentes,
as lunáticas, as enfáticas, as vagas,
as vagabundas, as puras, as duras,
as baratas, as caras, as pagas,
as rasas, profundas e vazias.
Pouco me afligem os chefes,
os mestres, os cheques, os leques
de opções inconvenientes, as declarações
intransigentes, os corações descontentes,
toda essa gente, os pilares, andares, elevadores,
impossíveis amores, incompreensíveis louvores,
os rumores de má fé, os senhores, a elite,
a ralé, a suíte, a trepada e o café da manhã
na cama, toda essa fama, essa dama
sorridente, esse drama inconstante.
Pouco me ocupo com as revistas
na estante, os egoístas, os tratantes,
os bairristas, os viajantes, os motoristas,
os comandantes, os passageiros, os otários,
os faceiros, os extraordinários, os ignorantes,
os bancários, os banqueiros, os proprietários
de banca de jornal, os pensadores, os proletários,
os criativos, os maconheiros, os esportistas,
os sedentários, os empresários, os traficantes,
os boleiros, os jornalistas, radialistas, comentaristas.
Muito me importo comigo, meu umbigo, meu abrigo,
com o perigo nas ruas, contigo e as suas
palavras, com eles ali e elas aqui, conosco, convosco,
com aqueles ouvindo, sorrindo, aplaudindo, assistindo
tevê, com quem acredita no que lê nas mesmas revistas,
com quem leva a sério as entrevistas mal-dadas,
as ativistas peladas, os ciclistas, as pedaladas
do robinho, do neymar e do ganso, com meu descanso,
meu propenso descaso, meu intenso apreço pelo cru,
nu, inocente, coerente, aparente... Eu e tu.