terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cento e dois pés.

Duplo-núcleo, duro
de entender, de ouvir;
furo de notícia: plano
furado, caô deslavado,
furor revelado às cegas
- sem regras, vives livre,
caminhas de ponto em ponto
sem notável sinal de passagem.

Tua abordagem: irretocável
trabalho em madeira envernizada,
tratada no tempo a peroba; toda
bóia é chance, todo alcance é válido
e, assim, é eternizada tua fama mutualista;
faz tua cama, põe tua mesa, dá-te espuma e banho;
estranho modo de ser, em que tudo é sabor, nada é saber.

Humanista sem causa, com as calças na mão; com as falsas promessas
de ontem, não dás solução ao esquema-esquemão; logo cais na imensidão
das relíquias-verdades de outros mares; navegas, te apegas aos terços,
ao berço da forjada emoção - forçada gratidão por tudo o que nunca
terás - remarás, remarás e jamais atingirás a borda; ficarás,
pobre, à deriva; a bordo do teu próprio velho-podre casco.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Malícia.

Tenhas modos: modules
tua voz ao te dirigires;
formules sentenças moldadas
na ponta de tua língua e te vendas
como queres; mas, te queiras dos olhos
de quem compra-te por voluptuoso desejo.

Sejas polido no início, suavemente raso,
incisivo na ideia central; verdadeiro
na (co)medida-sedutora-falsidade, cru
na essencial indecência da hora
-pode ser agora, se quiseres-
e mires sempre o teu real.

E a realidade vem cega, vil,
viril, animalesca, sedenta,
sangrenta, às vezes, vulgar;
tudo é lugar p'ra tudo, não há
escudo pr'alma nesse saboroso
duelo de tara; elo de rara malícia.