segunda-feira, 20 de junho de 2011

De um (dia) quase-vivo.

Não tem fim, nem escape;
é num labirinto de medos
em que trafego em horas
como estas, tão rudes.

Construí essas muralhas
de irracionalidade,
e de nada vale tanto pesar
se ainda vivo, preso, inerte.

O flerte com a morte
é evidente; a premissa
de um moribundo é da Terra
pouco exigir: apenas que o leve - logo.

E corre ao contrário o relógio
do mal(-)habitante; transforma
dias em séculos, noites em eras
que nada são, senão meras inseguranças.

Não há fibra que aguente;
e quando chega a fadiga, traz
junto consigo a razão - promovendo
a arte de saber esperar a enxurrada.

O que restam, enfim, são cacos,
partidos ladrilhos, destroços
de pedras; tijolos que guardo
para, um dia, edificar minha fortaleza de paz.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Proêmio do "sim".

a ti, a mim e a todos aqueles que, juntos, têm certeza.

Da porta de casa, de vidro
raso, vejo a vida rasa;
a fumaça ecoando aos cantos,
os berros inaudíveis
e os incríveis projetos,
as prosas vazias e os versos,
possíveis melódicos protestos
de qualquer alma vã.

De qualquer espaço ocupado,
qualquer vitral violado
traz vento p'ra dentro da sala,
ou à ideia de estar em comum
lugar; seja living, sleeping;
quero estar aquecendo tua carne,
teu corpo; que tudo seja afago
à tua boca, energia a teu sexo.

Que o reflexo atinja tua louca
face, que inaugure a eterna fase
de ímpeto-fissura constante;
que tuas auroras sejam de roucas
frases-faíscas ao pavio do ouvido;
que sejam minhas as letras, teus
os sentidos, e que tudo se funda
e confunda os papéis por todo tempo.

De nada nos servem anéis, se gêmeas
são nossas auras; que cada fêmea feição
desse ninho tenha tua essência
e que toda força para construi-lo
venha do meu macho-instinto, apoiado
em teu sereno leito de entrega
e desejo, junção de irrestrita
presença e infindável cuidado.

Que, para sempre, nossa obra seja
um quadro inacabado; que não falte-nos
inspiração para continuar a pintá-lo
de harmonia, retocá-lo de humanas
texturas; e que nossos olhos,
mesmo que seduzidos por alheias pinturas,
jamais sintam-se tentados a ensaiar novos traços
em vazias telas de atraentes molduras.